26 de julho de 2013

Um sonho realizado, uma pessoa mudada - Final

Finalizando...

    Entramos no ônibus da agência de turismo (acho que nosso primeiro ônibus nesse estilo, mas o preço valia) e seguimos em uma viagem rápida para a cidade de Copacabana - que dá o nome à Praia carioca, devido à grande semelhança entre o formato de costa das duas -, cerca de 5 horas. É, rápida comparada às outras viagens que já tínhamos feito ao longo da trip. Tivemos que descer do ônibus para um pequeno trajeto de balsa (no caso dos automóveis) e lancha (pedestres), para passarmos por um canal. No local de parada, novamente nos deparamos com sinais do inconformismo boliviano em relação à perda de seu território litorâneo para o Chile (clique nas imagens para poder ler as frases que caracterizam bem isto):


   Chegamos em Copacabana no início da tarde, e logo em seguida iniciamos a pesquisa de hospedagem, até nos instalarmos em um hostel simples e aconchegante, custando 25 bols por dia (desculpe, não me recordo o nome). Até que tínhamos um bom dinheiro para ficar na cidade por alguns dias, mas não poderíamos passar de três dias, já que eu tinha sido intimado pela família a estar em Pontal antes do dia 25 de fevereiro, meu aniversário. Pelos cálculos do tempo da viagem de volta, decidimos que ficaríamos três dias em Copacabana. Portanto, não tínhamos muito tempo para ficar parados, visto que é uma cidade linda, com muitos lugares interessantes a se conhecer. Decidimos então subir o morro em que se localizava o Mirante do Sagrado Coração de Jesus, a 3934 metros de altitude. E na subida, mesmo parando para fotografias, novamente a altitude e o seu ar rarefeito pegaram eu e o Lucas. Um cansaço absurdo! Graças a Deus existiam argentinos (nunca achei que fosse falar isso) lá em cima, com garrafas de água em mãos, que nos ofereceram para aliviar os problemas. Cheguei quase engatinhando! haha Mas em compensação, o estado de êxtase que ficamos, ao ver a imensidão de beleza do Lago Titicaca, compensou cada gota de suor. Simplesmente um lugar divino, sem palavras, daqueles que têm uma energia especial, algo que te emociona e te toca de um jeito que poucos lugares fazem. Instintivamente, segui para um canto, sentei-me no chão à sombra de um pinheiro e decidi só observar e absorver (salve, Eduardo Marinho!). O Lucas seguiu para outro canto, sem trocarmos palavras, só seguindo o coração. Fiquei ali, estático, sentindo aquela brisa bater e vendo a harmonia entre lago, céu e sol. Nesse momento, lembrei-me de todos os dias que passei planejando a viagem, de toda a contestação que enfrentei em casa e todos os argumentos que usei pra convencê-los de que isso tudo era realmente essencial pra mim, do choro da minha vó ao despedir-se do, até então, inexperiente mochileiro, das várias horas de viagem, dos perrengues, do cansaço, do frio, das incríveis pessoas que conheci, das alegrias, dos momentos eternos... é, ali era Deus dizendo pra mim que tudo isso tinha valido à pena, que minha busca pelo pôr do sol tinha chegado ao fim, mesmo não sendo em Lima, mas sendo num local totalmente místico, especial. Era um momento só meu, de profunda emoção, de profunda realização. 

Paz.
   Ao me dar conta de que não vivi tudo isso sozinho, resolvi procurar o Lucas e encontrei-o no topo do morro, sobre um rochedo, em paz, tocando o seu charango (instrumento típico boliviano), que havia comprado na cidade anterior. Toda vez que ouço aquela música - http://www.youtube.com/watch?v=32Js2Ef5Ojg -, aquele sentimento bom me volta à cabeça. Me sentei para compartilhar toda aquela alegria e algumas boas horas de conversa e reflexões se passaram, até o sol começar a se esconder. Já estava anoitecendo, o Lucas resolveu ficar um pouco mais por lá e eu voltei para o hostel, para comer algo e ver a estreia do Palmeiras na Libertadores da América (vício é vício haha). 

"A parceria faz o sangue e o sangue faz o irmão."

    Após acabar o jogo, tomarmos banho e jantarmos, decidimos conhecer a noite de Copacabana, muito bem comentada por quem já havia ido. Não tínhamos um local definido para ir, mas ao passarmos por um bar com bilhar e karaokê não foi preciso nem perguntar se o outro aceitava a ideia. Peguei algumas fichas e uma cerveja (Paceña gelada, dessa vez) e fomos jogar umas partidas, ao mesmo tempo que conversamos com o dono do bar. Ao saber que éramos brasileiros, decidiu fazer uma pequena homenagem, certo de que ia nos agradar: colocou para tocar músicas do Michel Teló e do Bonde do Tigrão, tudo o que eu queria ouvir. Felizmente o mundo estava do nosso lado: um apagão na cidade, nada de música. Assim, o Lucas pegou emprestado o violão do dono e eu umas velas, para iluminar a mesa e eu continuar a jogar enquanto ouvia o Lucas tocar. Aí sim ouviu-se música boa! Depois de esperarmos a luz voltar e ela não dar qualquer tipo de sinal, fomos embora do local, dormir. 

Si, truta!
    Na manhã seguinte, que já não era manhã, acordei com fome, decidido a comer o prato típico do local: truta. O Lucas não quis me acompanhar, então fui obrigado (coitadinho) a comer uma truta na manteiga sozinho, que não era servida em um prato, e sim, em uma pequena travessa. Divina! Os caras realmente mandam bem nesse prato! Havíamos combinado de ir para a Isla del Sol e Isla de la Luna na parte da tarde, porém os dois já não tinham a mesma disposição do início do mochilão e passaram o resto do dia dando sinal de vida para a família na internet, conhecendo um pouco mais da cidade e passeando à beira do Titicaca (com outro pôr do sol incrível). Na parte da noite retornamos ao bar da noite anterior e jogamos um pouco mais de bilhar, dessa vez sem ser interrompidos pela linda (ironia) homenagem do dono e/ou por algum apagão. De lá, fomos a um outro bar, um pouco mais movimentado, mas quase fechando. Só deu tempo de provar a outra cerveja boliviana - Huari, produzida em Oruro -, conversar um pouco com umas chilenas simpáticas e pagar a conta. Na manhã seguinte, arrumamos nossas coisas, compramos a passagem de retorno para La Paz e embarcamos. Era hora de dar adeus àquela maravilha. Mas fica até hoje o desejo de voltar, conhecer mais e aproveitar mais. Vale muito à pena! 

Até breve, Titicaca!
    Em La paz, assim que chegamos já tratamos de comprar as passagens para Santa Cruz de La Sierra. Pagamos 130 bolivianos pela Transportes El Dorado. Nesse ônibus, conhecemos e conversamos muito tempo com duas pessoas muito legais: a Marianella, dançarina argentina, e a Larissa, advogada carioca. Foi uma viagem longa, com paradas demoradas, e que fizeram a Larissa ter que sair do ônibus na última parada, para não perder seu vôo de Santa Cruz para o Brasil. Chegando em Santa Cruz, novamente fomos em busca da passagem para o próximo destino, e então compramos com a Empresa El Quijarreño por 35 bolivianos. Nos despedimos da nossa amiga argentina, compramos algumas salteñas para a viagem e seguimos. Uma viagem cansativa, mas uma das que mais me recordo e que mais me alegrou. Enquanto todos os outros passageiros dormiam, durante a noite, eu o Lucas conversávamos sobre toda a viagem e cantávamos músicas que vinham na cabeça, sendo ainda brindados por um céu muito, mas muito estrelado. A música que fica dessa parte do mochilão é: http://www.youtube.com/watch?v=W1ARYwDxHhk. Chegando em Puerto Quijarro, resolvemos fazer o caminho até a fronteira a pé, já que tínhamos ficado muito tempo sentados em vários ônibus. Era início da manhã e lá víamos nosso último nascer do sol boliviano.

Choro fake, na despedida da Bolívia.

    Chegando na fronteira Bolívia - Brasil, novamente muita fila e toda aquela confusão: muitos bolivianos, estrangeiros e brasileiros querendo ir para o Brasil. Não sei porquê, mas lá há uma porta para os bolivianos fazerem sua regularização e outra para os brasileiros e demais estrangeiros. Nessa grande fila conhecemos a Johana, uma psicóloga de Lima - Peru. Como é muito burocrático, confuso e demorado todo esse sistema da fronteira Quijarro - Corumbá, ficamos muito tempo conversando com a Johana e nos demos muito bem com ela (ps: ela que falou sobre o cevice verdadeiro, como citado no post anterior). Após sairmos daquele caos, conversamos sobre nossos países e indicamos vários lugares interessantes para ela conhecer no Brasil., já que iria pegar um ônibus para São Paulo e depois seguir para outras cidades brasileiras. Dali, nós dois decidimos pedir carona para chegar até Campo Grande, já que o dinheiro não era muito e o vontade de fazer mais uma aventura era grande. Depois de algumas tentativas, conseguimos um transporte de curta distância com duas universitárias que passavam de carro por ali. Não foi muito, mas qualquer ajuda é muito bem vinda. 
    Após desembarcar do carro, andamos muito para chegar até a saída da cidade e nesse caminho conhecemos um cara incrível, que caiu do céu. Não sabemos o nome dele e nenhuma informação, mas passamos em seu mercado e perguntamos se podíamos encher as garrafas com água, ele prontamente aceitou e ainda nos deu outra com água gelada. Saímos, agradecidos, do mercado e quilômetros de caminhada após, o mesmo nos encontrou propositalmente de carro e, sem falar nada, só expressando bons sentimentos, nos deu uma sacola com lanches. Uma mistura de alegria, gratidão e surpresa nos tomou conta. Uma bondade daquela é algo inimaginável, hoje em dia, que me serve de lição e referência até hoje. Após este fato, agora revigorados, caminhamos vários quilômetros até chegar na saída da cidade, onde queríamos hacer dedo para chegar a Campo Grande. Ficamos no local até o fim da tarde, e não conseguimos nada. Frustrados, decidimos ir para a rodoviária de Corumbá e comprar passagens para Campo Grande, já que não podíamos mais correr o risco de perder outro dia (meus pais me matariam se eu passasse o aniversário na estrada e descumprisse a promessa). Como só haviam passagens para o dia seguinte, compramo-as (78 reais) juntamente com alguns salgados da lanchonete e nos preparamos pra dormir por lá. Estava muito quente e o chão gelado da rodoviária caía como uma luva. Lembro-me que não consegui nem terminar de ver o Jornal Nacional e apaguei, perante ao cansaço de um dia inteiro de caminhada e tentativa de carona. Logo que acordamos já entramos no ônibus e seguimos para a capital sulmatrogrossense, parando somente uma vez, pela Polícia Federal, que revistou todos os passageiros e prendeu uma moça do nosso lado, com cocaína da fronteira. Chegando em Campo Grande, o Lucas ligou para seus tios que residiam na cidade e pegamos um táxi para visitá-los. Ficamos pouco tempo com eles, mas já deu para ele matar a saudade e contar-los das novidades da viagem. Eles nos levaram para a rodoviária e lá compramos as passagens com a Eucatur (170 reais) para Curitiba. Confesso que essa foi a viagem mais demorada e entediante da viagem, visto que já conhecíamos o trajeto, estávamos cansados, com saudade da família e dos amigos. Chegando em Curitiba o tempo de espera foi menor ainda: compramos os bilhetes para o embarque seguinte e às 17:20 do dia 20/02 pegávamos nosso último ônibus do mochilão, com direção a Pontal do Sul. 
Chegava ao fim a maior aventura que fiz na vida, com uma das pessoas mais incríveis que conheci, ao lado. 

   Agora, no momento em que escrevo, soma-se a saudade e nostalgia de tudo isso, a tristeza por ter acabado de descrever esse vinte e tantos dias, mas principalmente o prazer e satisfação de ter compartilhado todos esses fatos e a minha alegria aqui com vocês. "A felicidade só é real quando compartilhada." (Into the Wild)
Realizei muitos sonhos, tive muitas alegrias e situações que nunca vão se apagar da minha cabeça. Também passei por dificuldades e alguns problemas, pequenos diante de tudo isso. Mas tenho absoluta certeza que o Bryan de antes da viagem nem se compara com o Bryan pós-viagem. Mudei, cresci. Espero que não tenha somente crescido, mas espero que após tudo isso eu consiga ajudar também muitas pessoas a crescerem. Plantar a sementinha dentro de vários corações. É com isso que eu sonho.

    Torço para que tenham lido todas as partes, que tenham absorvido algo, que tenha sido útil. Agradeço os comentários, as críticas, as sugestões. Você que está lendo agora me motivou muito a deixar aqui esse relato. Meu agradecimento, de coração.

    Se você quiser tirar dúvidas ou comentar algo, fique à vontade para me adicionar no facebook (se ainda não tem, https://www.facebook.com/bryanrmuller) e ver mais fotos no álbum da viagem, que criei lá.


Obrigado, Deus!


"Você é assim, vai passar o resto da sua vida perseguindo o pôr do sol." (Kon-Tiki)






2 comentários:

  1. Ola, estou prestes a fazer meu primeiro mochilão, mesmo ja com quase 42 anos, e obviamente (por eu ter chegado até este ótimo relato) será praticamente o mesmo roteiro que vcs fizeram, foi muito bom ter lido, me imaginei lá já, obrigado por compartilhar, um forte abraço, que vc faça inúmeras viagens e aventuras ainda em sua vida, FIQUE COM DEUS!
    Valdinei Vogel.

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