19 de julho de 2013

Um sonho realizado, uma pessoa mudada - Parte 5

    E finalmente chegamos em La Paz...

Uma das principais avenidas de La Paz
...que na minha cabeça sempre foi a capital boliviana, até descobrir que ela 'apenas' é a capital econômica do país, a que realmente é a capital política é Sucre (viu? ler este blog é aprender Geografia haha). La Paz é conhecida por estar numa espécie de buraco. Você chega a ela através da cidade de El Alto e desce em círculos até chegar na parte mais baixa - La Paz. Durante o caminho, por ônibus, vimos vários outdoors informando obras de manutenção de estradas ou criação de novas, com dizeres mais ou menos assim "Se Evo promete, Evo faz!", juntamente com uma bela foto do presidente boliviano. É o tal do populismo. Contudo, creio que realmente ele esteja fazendo um bom trabalho pela Bolívia, descentralizando o poder (o que está incomodando muito a 'nata' boliviana). 

    Bom, paremos de falar de política e seguimos com a viagem: a rodoviária de La Paz era algo muito grande e caótica, que pretendíamos não ficar por muito tempo. Saímos dela com a intenção de procurar um lugar bom e barato. Enquanto o Lucas pesquisava preço e cardápio em alguns restaurantes e lanchonetes, eu ia para o lado oposto fazer o mesmo. Paramos em um que custava cerca de 9 bolivianos, com pollo como prato principal (não tem como fugir), sopa, PICOLÉ DE SOBREMESA e uma saladinha bem preparada. Simples e gostoso. De barriga cheia, seguimos a procura de um hostel. Após procurarmos alguns, decidimos ficar no que já tinham me indicado antes de sair para a viagem - Hotel Áustria (cerca de 20 bolivianos a diária), um local cuidado por um velhinho muito simpático, que de cara nos reconheceu brasileiros (segundo ele, por nosso sotaque, ao falar espanhol). Achei a melhor hospedagem da viagem, com um ambiente tranquilo, wifi, lavanderia, camas quentes e confortáveis, banheiros com água quente e boa localização. Além de feliz por ter encontrado um lugar legal, feliz também por saber que minha pesquisa antes da viagem tinha sido útil (faça uma! Se quiseres viajar...). 

Hotel Áustria
Descansamos, tomamos um bom banho (na verdade dois, né, cada um uma vez haha) e sentamos para conversar, para organizar a viagem. Depois de um bom tempo pensando e discutindo um roteiro com melhor custo/benefício para a sequência da viagem, decidimos que não iríamos mais para o Peru. Sabíamos que poderíamos estar deixando de aprender muita coisa, conhecer muita coisa, mas nos baseamos no seguinte: ainda tínhamos muito pra conhecer na Bolívia, já não tínhamos muito dinheiro, chegar a Lima seria passar muito tempo e gastar muito dinheiro em viagem, a moeda peruana é muito mais cara que a boliviana, etc. Marcamos como destino final de viagem o Lago Titicaca, se ficássemos sem grana lá pelo menos estaríamos mais próximos de casa do que se estivéssemos no Peru. Questão de sobrevivência. Com essa decisão, outra conclusão: já que estávamos preparados pra gastar muito no Peru e não iríamos mais, iríamos ter muito mais dinheiro ficando na Bolívia (já que o Nuevo Sol tem praticamente o mesmo valor que o Real, e assim, também 3 vezes mais caro que o Boliviano), e com isso poderemos gastar em coisas que não tínhamos planejado, elevaríamos o padrão de vida do mochilão por alguns dias haha. La Paz também seria melhor conhecida, ficaríamos mais de dois dias, segundo nossas intenções.

Plaza Murillo - principal praça da cidade
    Após a decisão dos novos rumos, saímos para jantar. Nosso objetivo era fugir do pollo. Com nosso mapa, tentamos encontrar o local que fazia fondue suiço. E, surpresaaaaaaa! Estava fechado. Como ele, muitos estabelecimentos, em plena sexta-feira a noite. Explicação? Carnaval. O que nos restou? Pollo! hahaha Jantamos e decidimos voltar para 'casa', pra podermos acordar cedo no outro dia e conhecer a bela La Paz. A decisão meio intuitiva foi a seguinte: ficaríamos 4 dias, sendo que em dois dias sairíamos juntos, pra dar o rolê - um deles a minha rota e no outro a do Lucas. Nos outros dois dias cada um iria por si. Na primeira manhã fomos conhecer a praça central da cidade, logo na quadra ao lado do nosso hotel. Uma praça cheia de pombas, com muitos policiais e membros do exército boliviano. Em torno dela havia a sede de vários poderes da Bolívia, que mereciam proteção. Turistamos um pouco ali e saímos para tomar café da manhã, o desayuno. Fomos a uma cafeteria muito boa e agora, com pouco mais de dinheiro pra gastar, podíamos pedir umas tortas e bolos mais caros. Festa feita! Após, fomos conhecer as ruas estreitas e altas do centro de La Paz e lá, como em Santa Cruz, também havia divisão de ruas para o tipo de comércio, com rua de materiais esportivos, rua de agências de viagem, rua de restaurantes, etc. Nessa volta que demos, fomos a agências que vendiam o pacote da Ruta de La Muerte - um passeio ciclístico que saía da altitude e levava até uma região baixa, em um percurso lindo e perigoso. O Lucas fez o passeio e diz que foi uma das coisas mais incríveis da viagem, recomendado! 

Cores das lojas paceñas
Barraca do Mercado de Las Brujas
    Também fomos conhecer a Mercado de Las Brujas e a Calle Sagárnaga, locais conhecidos da região central da cidade. O Mercado é muito curioso e recebe esse nome pela venda de poções do amor, incensos e até coisas mais exóticas, como feto de lhama e alguns outros animais empalhados. Aproveitamos as várias tendas do Mercado e da Sagárnaga para comprar umas lembranças para os amigos, aproveitando o baixo preço. Todas as tendas e ruas dessa região eram muito movimentadas e também muito bem decoradas, com muita cor (união entre os panos andinos e a decoração carnavalesca). Vale a pena conhecer. Nosso almoço foi em um restaurante em frente ao hotel, o qual tinha uma música muito boa (Lucas ficou fascinado com Hendrix et al tocando). Pedimos cevice de peixe, um prato típico do Peru na Bolívia. Não gostei muito, e na fronteira com o Brasil acabei descobrindo que aquele não era o jeito correto de fazer a receita. Ainda tenho esperanças que seja gostoso :)

    Após dar uma boa volta pela cidade no primeiro dia, eu iria realizar meu desejo em La Paz: conhecer o estádio nacional, casa da Seleção Boliviana de Futebol e dos times locais. Caminhamos bastante até chegar ao bairro Miraflores, onde situava-se o Estádio Hernando Siles. É muito bonito por fora e tem uma praça mais bela ainda em frente. Infelizmente ele estava fechado para o público, por ser feriado nacional, e naquela semana também não haveria jogo pelo Campeonato Boliviano de Futebol. Uma pena. Após isto, fomos conhecer um parque da cidade, que possuía um mirante com visão panorâmica da cidade, um teatro ao ar livre lindo, além de muitas quadras esportivas. Sentamos para ver os bolivianos jogarem futebol nessas quadras, esperando que sobrasse uma vaguinha para brincarmos e conhecermos o poder da altitude. Após muito tempo, um deles se cansou e perguntou se eu queria entrar no lugar dele. Perdão, mas como foi muito especial para mim, será mais detalhado.

Bryan fascinado com o Estádio

    "Yo? Si, si!". E então, ele perguntou, com um tom um pouco debochado, se eu era inglês. Eu disse que não, que era brasileiro. "Noooooooooooo, és brasileño?" Ficou espantado e interessado. Avisou a todos que eu era brasileiro, pra tomarem cuidado (viu como ainda somos respeitados como o país do futebol?). Ali eu me sentia bem, brincando com um pessoal que eu não conhecia, mas me divertindo com o futebol. A altitude realmente pega e eu cansei muito rápido, pois tinha dificuldade de respirar: o ar que era inspirado vinha seco e gelado, fazendo com que eu tossisse logo após. Ou seja, o ar que eu puxava já era solto logo em seguida, pelas tossidas. Consegui aguentar cerca de 15 minutos jogando, muito provavelmente devido aos oferecimentos de água para mim a cada 2 minutos. Mas gostei muito e percebi que realmente a bola é mais leve, corre mais e o chute sai mais forte. Uma experiência única! Quando eu cansei, o Lucas entrou, também jogou e se divertiu. Fomos muito bem tratados! Nosso time ganhou e o pessoal veio nos agradecer por ajudar na vitória. Deram 5 bls para cada, como pagamento. Relutamos em aceitar, pois só queríamos nos divertir, sem grana. Então descobrimos que era uma aposta entre os dois times e que o adversário, derrotado, teve que pagar uma quantia ao nosso time. Como não iríamos aceitar o dinheiro e eles não iriam desistir de oferecer, sugeri que juntássemos o dinheiro de cada um e comprássemos umas cervejas. Ele adoraram a ideia e pediram para acompanhar-los até o local de compra. Durante o caminho eles nos explicaram que eram amigos, de diversas cidades, que se encontravam durante a época de Carnaval para trabalhar ali perto do parque, em ruas cheias de barracas de venda de comidas e diversas coisas. As barracas deles eram semelhantes às de parques de diversões, com a brincadeira da argola, da bola na pilha de latinhas, bola na boca do palhaço, etc. E esses amigos formavam um time - Los Gorilas. Que era conhecido no bairro e vitorioso. Ao longo de algumas cervejas Paceñas quentes (sim, lá é frio, alto e eles estão acostumados a bebe-las quentes. Por incrível que pareça eram gostosas, sem ser amargas. Prontas para esse tipo de consumo) eles nos contaram um pouco de suas vidas, do que achavam do Brasil e do futebol brasileiro. Também lhes contamos um pouco sobre nossa viagem, sobre o quê conhecemos o futebol boliviano e o que fazemos da vida. Uma tarde muito legal, no coração de La Paz, com novos amigos. Eles nos convidaram para jogar um campeonato pelo time, mas explicamos que nossa viagem precisava seguir. Triste por não ter participado, feliz por saber que era por um bom motivo. Mais feliz ainda por ter passado por isso, por não ter apenas turistado na cidade, por ter conhecido de fato os bolivianos, sua cultura e dia-a-dia. Hoy soy un gorila!

Los Gorilas
   Bom, reduzindo um pouco a empolgação, voltemos aos fatos. No dia seguinte o Lucas foi para sua trip ciclística (que não fui, muitos sabem o motivo hahaha) e eu fui conhecer o Mercado Lanza e o Museu da Coca. O Mercado também é muito legal, como o das Brujas. Porém, maior e mais organizado, com 4 andares e sinalização para tudo o que é vendido por lá: livros, flores, carnes, frutas e verduras, refeições... O Museu da Coca também é interessante, se paga 10 bls para entrar e é possível conhecer toda a história da Coca no país e no mundo, desde o seu uso por indígenas, até a transformação em droga sintética, seus efeitos, sua legislação, suas informações e a cultura da coca. Na manhã seguinte, manhã do quarto dia em La Paz, eu e o Lucas começamos a arrumar nossas coisas para viajar para Copacabana, cidade à beira do Lago Titicaca, em sua porção boliviana. Enquanto o Lucas se preparava, parei em frente à TV e vi a notícia: em todas as principais praças de todas as cidades bolivianas, naquele dia, haveria uma homenagem do exército e da polícia aos combatentes da batalha com o Chile. Aquele dia marcava 134 anos da invasão chilena ao litoral boliviano, fazendo com que o país perdesse o acesso ao mar. 
Homenagem militar
Os jornalistas enfatizavam o termo "injusta" a todo o momento, demonstrando a insatisfação dos bolivianos com a situação. Como estávamos muito próximos à praça central de La Paz, o Lucas foi lá fotografar o momento. Com tudo aquilo, concluímos que o povo boliviano ainda é muito sentido em relação a isso, pois não possuem mais litoral. Por considerarem injusta a invasão, parecem estar se organizando para um dia retomar essas terras. Me parece que o Evo já está preparando a população para isso e uma tensão começa a se criar entre os país, se tratando disso.

  Bom, após esta manhã de conhecimento da história da Bolívia, compramos nossa passagem para Copacabana, ali mesmo no Hotel Áustria. Pagamos 20 bolivianos e fomos pegos na porta do estabelecimento, pela agência responsável pela viagem. Os dias em nosso último destino de viagem, a alegria de conhecer o Lago Titicaca e a minha análise dessa viagem estarão no próximo (e último sobre isso) post, aguardem :)

Saída de La Paz em grande estilo


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