Continuando a brincadeira, então...
Oruro: região de nascimento do atual presidente Boliviano, Evo Morales |
De Cochabamba para Oruro foram cerca de 4 horas de viagem. Então chegamos pouco menos do meio dia, em 5 de fevereiro. Nos deparamos com um ambiente peculiar: 90% das casas sem reboco, numa espécie de tijolo-à-vista-não-forçado e muuuuita poeira! Saímos da rodoviária já com a intenção de encontrar a estação ferroviária, que nos levaria até Uyuni. Paramos para pegar mapa e pedir informações (além de comprar o presente do Rafa, tá Mariel? haha) e notamos que a cidade estava numa atmosfera diferente. O carnaval se iniciaria no dia seguinte! Nem tínhamos ideia que havia Carnaval na Bolívia (e aí os preços mais caros que o normal fizeram sentido), muito menos que o de Oruro era o mais famoso do país e que é até reconhecido pela ONU como patrimônio cultural. As arquibancadas já estavam ficando prontas, as crianças já estavam nas ruas brincando (lá há a tradição de jogar nas outras pessoas balões cheios de água, além de utilizar espuma em lata e arminhas de água. Uma verdadeira "guerra boa") e nós dois ali, alheios a tudo. Tínhamos a ideia de fugir do Carnaval do Brasil e fomos achar um na Bolívia? Ai ai...
Avenida do desfile de Carnaval orureño |
Na caminhada até a Ferroviária tivemos o primeiro contato mais forte com a altitude - falta de fôlego em alguns momentos, cansaço mais rápido que o normal e uma dor de cabeça chata e permanente. O tal do soroche existia (nome dado ao "mal da altitude")! Fomos num passo forte até a Estação, com medo de ficarmos sem bilhete, mas chegando lá descobrimos que só abriria as 14:30, uma hora antes de o trem partir. Decidimos então sair para almoçar e comer algo peculiar. Queríamos lhamas! hahaha Embora não tivéssemos encontrado o desejado, entramos num restaurante com ambiente aconchegante, aparentando ser bem cuidado. Pedimos a refeição mais barata, que vinha com sopa, um prato como segundo e o postre (sobremesa). Uma sopa deliciosa de macarrão, um prato de arroz com carne e ovo e uma espécie de suco de amendoim gelado (diferente, mas gostoso) nos saciou e deixou-nos prontos para a nova aventura. Custou 12 bolivianos tudo (4 reais).
Almuerzo |
Como era uma terça-feira, o único trem em atividade era o Expreso del Sur, que tinha um custo mais elevado. Pagamos 56 bolivianos e tínhamos a previsão de chegada as 22:30 em Uyuni. Esse trem era menos confortável que o Trem da Morte, mas muito, muuuuuuuuuuuuuuuuuuuuito mais prazeroso. Desculpe a ênfase, mas é inevitável. Durante o trajeto vimos paisagens fascinantes! É incrível como na Bolívia as paisagens mudam a cada minuto. Vimos montanhas bem vegetadas, montanhas sem vegeteção, montanhas com neve, pastos cheios de lhamas soltas, lagos formados pela chuva, mini-desertos, vilarejos com casas feitas de barro e cobertas com palha, chuva, sol, arco íris, raios, pôr do sol... Resumindo: não há como descrever, juro! Não dá pra dormir durante a viagem, embora o soroche esteja pegando. É de ficar com os olhos fixos na janela, só admirando. Impossível não se emocionar no mínimo uma vez com todo aquele espetáculo da natureza. Por isso digo: não deixes de pegar esse trem e fazer esse percurso se fores à Bolívia. A comida à bordo também é boa, apesar de todos os pratos custarem 35 bolivianos (o que é caro para um início de viagem, e para um mochilleiro).
Umas das várias paisagens incríveis do trajeto Oruro-Uyuni |
Chegamos em Uyuni e agooora sim, o frio. Temperaturas abaixo de 10º C a noite, na altitude de 3600m. Procuramos um hostel ou pousada para nos salvar do vento gelado e nos proporcionar uma boa noite de sono. Encontramos o hostel El Salvador, que já haviam me indicado pela internet antes da viagem. Um lugar simples e confortável, sem grandes regalias, com diárias custando cerca de 25 bolivianos.
Noite de Uyuni é sempre gelada |
Na manhã seguinte, acordamos cedo e fomos em busca de uma agência que nos ofertasse o pacote de 3 dias para o Deserto de Sal de Uyuni (segundo um monumento da cidade, a primeira maravilha do mundo). Uyuni é uma cidade muito pequena, basicamente formada por três quadras e com a Plaza Arce sendo o centro, se é que pode se dizer isso. Em cada esquina há pelo menos uns três vendedores de pacotes para o Deserto. Infelizmente acordamos um pouco tarde e somente haviam vagas nas agências mais caras. Decidimos então ficar mais um dia na cidade, resolver umas pendências (sacar dinheiro, avisar pela internet a todos que estamos bem, lavar roupas, secar outras). Após realizar tais, almoçamos pizza de lhama (finalmente encontramos! Pena que não continha muitos pedaços) e fomos para a pesquisa de preço. Encontramos a agência Full Adventure que nos pareceu organizada e que cobrava 750 bolivianos para o pacote de três dias, incluindo hospedagem, transporte e alimentação durante esse período. Ainda havia 150 bolivianos não-inclusos que teríamos que pagar para entrar na Reserva Nacional de Fauna Andina Eduardo Avaroa. Com os bilhetes em mãos, saímos para conhecer a pequena cidade e seu mini-carnaval, além de comprar frutas, água e doces para a viagem, visto que havíamos sido informados que os mesmos eram escassos nos locais que visitaríamos.
Durante a noite, enquanto o Lucas lia e eu arrumava a mochila, aconteceu um apagão - era um convite a nós dois para sair do hostel (depois descobrimos que o fato era de certa forma comum na região) e desbravar a cidade naquela situação inusitada. Pegamos a câmera, nossas lanternas e fomos nos aventurar nessa. Um ambiente meio sombrio, ao estilo jogos de suspense/terror no vídeo game, mas muito divertido. Encontramos uma das várias tendas de senhoras, que estava repleta de barras de chocolate boliviano. De todas as frutas possíveis. Compramos o de manga. Sim, manga. QUE MARAVILHA! O melhor chocolate que comi na minha vida (se um dia você for para lá, compre um para você se certificar que eu não estou mentindo e um para mim, de lembrança, por favor). Podia dormir tranquilo e feliz depois disso.
Cemitério de Trens |
Já na quinta-feira, dia 7, tomamos o desayuno e seguimos à Full Adventure. Conhecemos nosso guia da viagem - Luis Mario- e os clientes companheiros de aventura: o casal equatoriano Daniel e Gabriela, os amigos ingleses Sean e Tobias. Seguimos então para o Cemitério dos Trens, um local onde uma ferrovia foi desativada e sua estrutura permaneceu, à mercê das interpéries. Peculiar e desértico, que proporciona boas fotografias, com os vagões enferrujados e seus trilhos desativados. De lá, partimos para o Salar de Uyuni, um dos principais pontos turísticos bolivianos. Antes passamos no vilarejo onde estão situadas as associações de artesanato, de extração e de refino do sal. Haviam casas construídas com blocos de sal, semelhantes a blocos de gelo utilizados em iglus. Muito interessante!
Construção com blocos de sal no local de seu refino. |
Salar de Uyuni |
Após minutos de viagem, sai a terra e entra o sal. Sal por todo o lado. Uma imensidão branca, com céu azulzão e flamingos bonitos voando nele. Praticamente impossível não ficar com óculos escuro. O reflexo e a claridade prejudicam muito a visão, embora não haja como deixar de tirá-lo para ver se tudo aquilo é mesmo real. Fizemos o passeio sentados no teto do jipe e apesar da imensidão branca, notava-se vários pontos pretos, com muitos outros jipes de passeio. Todos convergiam para o mesmo local: o famoso hotel de sal. Paramos lá para conhecê-lo, almoçar (carne de lhama, quínua, banana, salada, chocolate e Coca-Cola) e ver suas esculturas de sal, bem como um monumento em frente ao mesmo, em que os visitantes deixam as bandeiras de seus países. O Brasil, claro, estava lá representado pela sua bandeira, pela do Fluminense e pela do MST. Até lá, Jesus! hahaha
Conhecendo o vilarejo |
Na manhã seguinte, acordei muito antes do horário combinado e saí para uma caminhada matinal, um "reconhecimento de campo". QUE LUGAR! Esse vilarejo é formado por três ruas paralelas e poucas perpendiculares a elas, sendo que fica no centro de um vale lindo, formado por uma vegetação rasteira contínua, montanhas rasgando o céu e várias criações de lhamas e carneiros. Quem dera tenha uma vista daquela todas as manhãs. Voltei e todos tomamos café, para então seguir viagem. De lá fomos ao Vale de las Rocas - região com formações rochosas muito bonitas e extensas. Lá sentia-se uma paz de espírito muito confortante e atípica. Ao sentar-me e fechar os olhos, só sentia o barulho e a força do vento, além de algumas aves. Só. Um contato com Deus forte. Daqueles momentos para se guardar para sempre.
Contarei sobre elas e os dois dias restantes do pacote no próximo post. Tem muita coisa legal ainda para ser falada :)
Muito interessante teu relato.Parabéns e continua esse trabalho. Adorei conhecer (e vaijei junto) estes lugares através de tua descrição.Um abraço
ResponderExcluirIsolda