6 de março de 2013

Um sonho realizado, uma pessoa mudada.

    

      Um sonho que surgiu aos 15 anos de idade. Eu estava ali, preso dentro de casa e com dependência total dos pais. Sabia que era necessário e importante viver tudo aquilo, mas também sabia que havia um mundo gigante lá fora, que minhas asas estavam coçando pra começarem a bater. Sonhava conhecer muitos países, e com isso culturas, pessoas e locais diferentes com a simples motivação de conseguir crescer pessoalmente e pôr a força em prova. O sonho foi amadurecendo, mas era necessário atingir a maioridade. Após isto, conseguir algum dinheiro. As possibilidades na vida já eram maiores, quando numa conversa casual com o Lucas - daquelas que ele fala sobre o interior do ser, paz e essência - fiquei sabendo de sua intenção de ir até o Peru. Era o que eu precisava ouvir de alguém. Dupla feita, aventura e desejos compartilhados. Finalmente minha busca pelo pôr do sol no Pacífico iria se realizar. Finalmente o que eu sonhava há 7 anos poderia acontecer. Empolgação tomou conta!

        Foram três meses de leitura sobre Bolívia e Peru, procurando qualquer informação que pudesse ser útil, sobre ambos. Eu queria estar preparado, aventurar mas sabendo o que estava fazendo e vivenciando. Com as leituras de vários relatos de viagem, informações disponíveis na internet sobre as cidades desses países, histórias de amigos e desconhecidos comecei a traçar o roteiro, que inicialmente priorizava o Peru. Passei dezembro em Santa Catarina com a família, gastando o menos possível (isso incluía não sair com os amigos). Sabia que todo dinheiro gasto ali era um valor importantíssimo tirado da viagem, visto que universitário não ganha lá muito bem e necessita fazer escolhas sobre no que e quanto vai gastar (até ter que deixar de ir no casamento de uma amigona e aniversário de outras duas amigas tão especiais quanto). 

       Em janeiro eu e o Lucas, já com o roteiro de viagem praticamente definido, começamos a correr atrás do que iria ser necessário para a viagem além das informações. Mochila (comprei uma de 70+10 litros), canivete com talheres, cartão Visa Travel Money (funcionou bem pra mim, sem dores de cabeça.. aconselho usá-lo em viagens internacionais e solicitar um cartão reserva), vacina de febre amarela, óculos de sol (não há como ir no Salar de Uyuni sem e não há como ir a Bolívia e não visitar), bota de trilha, identidade nova (com mais de 10 anos não serve na fronteira) e roupas de frio foram itens que comprei/emprestei/ganhei e que sabia que seriam essenciais para a trip. Não errei.

      Infelizmente pouco antes de viajarmos ocorreram problemas com dois brasileiros: um estava desaparecido e outro se feriu caindo numa fenda ao ir escalar. Era tudo que eu não precisava. Minha família - especialmente meu pai, mãe e vó materna - surtaram. Começaram a achar tudo aquilo perigoso e pediram, até imploraram pela minha desistência. Fiquei com uma pulguinha atrás da orelha. Conseguiram me deixar um pouco preocupado, já que eu era 'marinheiro de primeira viagem'. Mas sonho é sonho. Não ia desistir tão fácil e deixar todos os planos de lado. Risco sempre vai existir e quanto mais difícil é de se fazer algo, mais prazeroso se torna. 

      Cheguei à Pontal do Sul e iniciei a fase final de preparação, com conversas e planejamentos com o Lucas. A data de saída em direção à Bolívia estava definida: 31 de janeiro. A data de volta estava prevista para dia 23 de fevereiro, já que eu tinha intenção de comemorar os 22 anos com a família e os amigos, e não dentro do ônibus, voltando ao Brasil. As cidades que seriam visitadas também foram escolhidas: Campo Grande e Corumbá no Brasil; Puerto Quijarro, Santa Cruz de La Sierra, Cochabamba, Oruro, Uyuni, Tour do Salar de Uyuni, La Paz e Copacabana na Bolívia; Puno, Cusco, Lima, Chicama e Arequipa no Peru. Algumas delas iriam servir somente como as escalas mais baratas para os destinos principais.

Recepção douradense
     Para chegarmos em Curitiba pegamos uma carona com o pessoal do curso, que iria fazer a recepção dos nossos calouros na UFPR. De lá seguimos para a rodoviária da cidade. Chegamos pouco depois das 21 horas e para nossa surpresa e tristeza os ônibus das 22:15 e das 22:30 para Campo Grande estavam lotados. Haviam duas opções: ir no dia seguinte ou achar outro destino. Decidimos procurar passagem para alguma cidade sul mato grossense e encontramos para Dourados. Perfeito! Lá iríamos poder visitar nossas amigas da graduação, Elisa e Julia. Assim fizemos. Pagamos 160 reais na passagem, pela Viação Expresso Maringá. O ônibus era muito bom, porém parava em muitas cidades. Com isso chegamos em Dourados no horário que a empresa que ia até Campo Grande (Eucatur) prometia. Mas o atraso foi ligeiramente compensado pela recepção. Almoçamos no shopping ao lado da rodoviária de Dourados e logo surgiram a Elisa e seu pai (diga-se de passagem uma pessoa incrível. Muito gente boa, calmo e inteligente), nos convidando a ir na casa da Julia. Uma casa linda, com uma família linda e com um tereré (se falar com "ê" elas me matam haha) gelado e muito bom! Passamos a tarde numa conversa gostosa com todos, no dia do aniversário da Dona Dalva (mãe da Julia) e começamos a ver o quão bom tinha sido a decisão da viagem, embora também estivéssemos ansiosos com a parte boliviana. Seu Julião (pai da Julia) então nos levou a um posto na saída da cidade para tentarmos alguma carona para a capital do estado, já que queríamos economizar dinheiro e ganhar tempo.


No posto conversamos com muitos caminhoneiros e descobrimos que poucos iriam para CG, então decidimos verificar se havia carros populares com placas da cidade, já que isso traria uma grande possibilidade de o motorista estar indo para onde gostaríamos. Dito e feito. Encontramos o César, um representante comercial muito legal, que inicialmente estava muito desconfiado, mas aceitou nos dar carona para Campo Grande. Vimos nosso primeiro pôr do sol na viagem ao mesmo tempo que as conversas com nosso novo amigo sobre mulheres, futebol, família e política fluíam  Chegamos as 22 horas na capital e então nos despedimos do César. Pela primeira vez colocando as mochilas nas costas, sentindo seus mais de 10 kg de peso e a emoção de termos conseguido nos virar diante das primeiras dificuldades.


Casa do Rafael
Seguimos então em direção ao endereço passado pelo Rafael, nosso contato do Couchsurfing (para quem não conhece: um site muito bom de troca de hospedagens free). Demoramos a encontrar, apesar de irmos pedindo informação nos momentos de dúvida. O Lucas começou a pedir maiores informações da localização por celular para o Rafael e creio que o mesmo percebeu que estávamos meio perdidos. Decidiu nos buscar de carro. Rafael desde o início se mostrou muito simpático e receptivo, que gosta de música boa, tem um emprego que aprendeu a gostar e se sentir feliz, uma casa linda e aconchegante, com uma cadela (a Kia) grande e igualmente linda. Saímos então para jantar algo e logo depois caímos como pedras em suas respectivas camas, sonhando com o dia seguinte naquela cidade incrível. Fiquei realmente encantado com a organização e a beleza de lá: ruas largas, ciclovias bem definidas, muitas árvores e canteiros plantados e muito bem cuidados. Mas confesso que estava um pouco tenso por saber que a cidade tinha o maior número de casos de dengue no país, naquela época. Embora houvesse essa preocupação, ela foi deixada de lado no outro dia. Fomos convidados pelo Rafael a ir num churrasco na casa dos seus amigos. Meu Deus, QUE CHURRASCO! Uma tarde muito agradável, com cerveja gelada, comida boa e muita conversa interessante, desde a panela de pressão de 300 reais até histórias do Acre e sinopses de filmes franceses bons. No fim da tarde seguimos para a rodoviária - levados pelo sempre generoso Rafael - onde iríamos rumar a Corumbá. Pegamos o ônibus da meia noite, pagando 81 reais pela viação Andorinha.

Chegamos as 6 da manhã em Corumbá e em seguida pegamos táxi, dividindo-o com um dos passageiros do ônibus. Cada um pagou 10 reais para sermos levados até a fronteira. Lá encontramos uma fila gigante de pessoas e descobrimos que a maioria eram bolivianos que estavam desde o dia anterior no local, aguardando a vez para entrar no Brasil. Como queríamos sair do Brasil, entramos em uma fila menor. Mesmo assim ficamos cerca de 3 horas aguardando a vez de sermos atendidos. Durante esse tempo conhecemos duas gurias e um cara mineiro que também iriam mochilar, além do Douglas, um paulista meio japonês que iria fazer praticamente o mesmo trajeto que nós dois. Conseguimos passar pela burocracia brasileira, e então tínhamos que dar entrada na aduana boliviana, para podermos seguir viagem. Lá outra fila, um pouco menor, mas tão cansativa quanto, já que o sol apertava mais naquele momento. No decorrer das duas horas nessa nova fila aproveitei para ligar desejando feliz aniversário ao meu pai e informar que estava bem, mas que a cobertura do celular iria acabar, visto que estava entrando num novo país. Preenchemos nossos dados e dentro da aduana já tivemos a primeira ideia de um fato corriqueiro da Bolívia: a paixão e devoção por Evo Morales (atual presidente) e Simón Bolívar (libertador do país, herói da independência) expressados em retratos de ambos na parede do local.


Retratos dentro da aduana boliviana. Ao centro Evo e à sua esquerda Bolívar


Após dois dias de viagem, um pouco de cansaço, porém várias experiências grandiosas, chegamos à Bolívia! O espanhol/portunhol iria começar a ser posto em prática, as pernas e costas iriam começar a ser mais forçadas e a alegria de estar viajando para um lugar novo iria começar a transcender. Hasta luego, Brasil!


----CONTINUA NO PRÓXIMO POST----

3 comentários:

  1. A panela de pressão. Conversa inesquecível. Haha. Vocês são ótimos, de verdade!

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  2. Cade o próximo post??? gostei mucho bryanis, menos da parte em que vc perde um casamento ehehe!

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